ábaco – manhã de pernas abertas para o sol
2017–2021
Com título emprestado de um poema de Manoel de Barros, manhã de pernas abertas para o sol configura-se como um poema visual que investiga o surgimento do fabuloso nos interstícios do ordinário. Cenas cotidianas tornam-se matéria sensível para refletir sobre a memória, o tempo e a presença.
Apresentado em formato sanfona (Leporello), o livro alterna imagens e texto, estabelecendo um ritmo que tensiona a fugacidade do tempo com sua possível apreensão pelo inconsciente e pela memória corporal. O trabalho propõe que o que permanece da experiência são fragmentos: vestígios do vivido e das relações que nele se inscrevem.
A obra também opera uma inversão crítica da lógica da objetificação, ao evocar o corpo masculino como ponto de partida para refletir sobre o lugar da mulher na história da arte — de objeto contemplado a sujeito ativo da narrativa.
Técnica: livro de artista em madeira pinus tingida com café, dobradiças metálicas, texto em tinta à base de água, tecido e colagem de fotografia digital impressa em papel Hahnemühle Matte Fiber.
Dimensões: 21 × 30 × 13 cm (fechado); 21 × 184 × 1 cm (aberto)
Nota de processo: A obra articula dois eixos recorrentes na minha pesquisa: o deslocamento do olhar para o cotidiano e o periférico como estratégia de valorização do sensível; e a revisão crítica da presença feminina na arte, deslocando-a da condição de musa passiva para agente narrativa.
