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porque imperfeito és carne e perecível (2022-todate)

 

"Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?"

Hilda Hilst, em 'Da Noite'.

Com título emprestado da poesia de Hilda Hilst, esse projeto fotográfico visa investigar a falibilidade da crença de que o homem está no centro do mundo.

 

Vivemos na crença equivocada de que o homem está no centro do mundo, a justificar a existência de tudo e de todos, desde pessoas a coisas. Entretanto, nós, humanos, somos compostos da mais pura matéria-carne-frágil, prestes a se desintegrar em apenas algumas décadas. Qual será este senão o maior e mais encantador mistério da vida: o seu próprio fim. O que fica dessa vida para contar história? Certamente que não seremos nós, eis aí o maior paradoxo do Antropoceno: sua falibilidade intrínseca - ou cinismo - de saber-se carne perecível mas se comportar, míope e confortavelmente, como se fosse um protagonista imbatível de toda narrativa. E equivocadamente eterno.

Como escreveu Marina Lima e Antônio Cícero “as coisas não precisam de você”.

Projeto de pesquisa imagética em curso (2023).

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