Os objetos celestes sempre foram motivo de fascínio para a humanidade. As sociedades apontavam para o alto buscando padrões, respostas e significado. Os céus foram - e ainda são - olhados para encontrar orientação geográfica, informações sobre o tempo e as estações do ano e até mesmo para mapear a personalidade de uma pessoa ao nascer. Os primeiros astrônomos foram capazes de compreender padrões do movimento celeste, identificar fases da lua, prever eclipses, definir constantes dos movimentos planetários e, a partir disso, associar os acontecimentos no céu aos fenômenos na Terra. Para identificar esses movimentos celestes, tais astrônomos criaram desenhos formados ao ligar estrelas no céu, que receberam o nome de constelação. Uma constelação é um chamado ao imaginário, na medida em que as linhas não existem e a posição das estrelas é uma ilusão de ótica. Encontrar as figuras formadas em cada constelação é parte de um acordo coletivo: a comunidade diz que ali está a figura de um urso e a própria comunidade vê ali a figura de um urso.
É nesse jogo de representações que inserimos a exposição Constelações latinas: encontros em fotolivros. A mostra faz um pequeno recorte de artistas contemporâneas da América Latina que tem como objeto e linguagem o fotolivro. Na constelação, consideramos cada artista uma jovem estrela - não como celebridade, mas como farol - que cria ainda mais significado, potência e guiança quando juntas em rede. Desenhamos um mapa imaginário (não seriam todos os mapas frutos da imaginação?) e partimos do entendimento das antigas constelações em busca de referências para nossos deslocamentos, reflexões e construção coletiva de significado nos estudos da imagem.
Em nossa constelação latina, a reunião dessas artistas e seus trabalhos formam um desenho que pode ser visto a partir de um lugar e tempo específicos. Nosso desejo é menos a convenção que fixa o céu em posições definidas e mais a construção dos antigos pescadores e mercadores, constelações fugidias que permitiam a sobrevivência em mares turbulentos. E são essas mesmas efêmeras marcações que apontam caminhos, possibilidades e desvios nas turbulências que nós, navegantes do contemporâneo, seguimos atravessando nos dias de hoje.
3. O que determina um limite, uma fronteira? A partir de tensionamentos provocados por essas perguntas, Allicia Caldera investiga o processo de imigração venezuelana para a Colômbia, propondo ao mesmo tempo uma viagem física e emocional entre esses dois países. A resposta afetiva aos limites se faz presente no trabalho de Juliana Jacyntho, ao retratar o mar que chega cada vez mais perto da casa de sua infância. E também no trabalho de Ana Rovati que, em sua experiência de passar um ano sem utilizar a internet, encosta nos limites cada vez mais difusos entre nossa vida física e virtual.
AS CURADORAS
Luciana Molisani Graduada em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP-SP, a paulistana é cofundadora e editora da Lovely House, editora e casa de livros especializada em artes visuais. É idealizadora e diretora artística da IMAGINÁRIA_festa do fotolivro desde 2021. Sócia e diretora criativa na agência Irmãs de Criação, atua no mercado editorial desde 2003 e já conquistou dois Prêmios Jabuti pelos livros Miro, artesão da luz (fotografia) e Maquiagem – Marcos Costa (capa).
Daniele Queiroz (São Paulo, Brasil, 1986) é artista, educadora e pesquisadora. É mestre em Representações e Imaginários pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, onde também se graduou. Atualmente trabalha como curadora-assistente de fotografia contemporânea no Instituto Moreira Salles. É fundadora do projeto “A história é outra”, plataforma que abarca estudos curatoriais e práticas artísticas no campo da fotografia, olhando para corpos dissidentes que foram excluídos da historiografia oficial.
É cocuradora da exposição “Constelações latinas: encontros em fotolivros” no Festival Imaginária, assim como da exposição “Realidade e corrosão: fotolivros japoneses contemporâneos” no Instituto Moreira Salles. Atuou na equipe curatorial da exposição “Daido Moriyama, uma retrospectiva”, “Palavras Cruzadas”, de Miguel Rio Branco, assim como no acompanhamento curatorial dos vencedores da Bolsa ZUM desde 2020.
Comentarios